sábado, 29 de junho de 2013

The Classics IV - Traces (Tradução)

Chuva Brilhante

CHUVA BRILHANTE

O ar estava abafado
e eu já afobado
com esse escaldante calor
esse vapor condensado
as horas passam pesadas
caminhar é um martírio
respirar então mais ainda...
até que uma chuva brilhante
em cristais gotículas
arrefeceu o dia
e tudo se tornou delirante...
dança na chuva
sobre o piso escorregadio
dança vadio
sobre o trabalho das nuvens

C.R.G
 
 
 
 

Painting of King

o álbum de L'incanto d'amore dei poeti estinti.
 
 
 

INTERVALO

Sometimes life is black and white.
INTERVALO
ENTRE FAIXAS
LUZ E SOMBRA
UM PASSO
ENCAIXA
O HORIZONTAL PERCURSO
SE VERTICALIZA

C.R.G


Sometimes crossing the street is black and white
 
 

POEMANATUREZA

POEMANATUREZA

E por manter presa
unida
coesa
e mesmo com a pele férrea
carcomida
em ferrugem
a corrente
com os seus circulares
metálicos membros
cumpre dúctil
o seu destino
resguardar
a liberdade
de elementos naturais
preservar a biografia
de formigas escondidas
entre as folhas
largas compridas
esmeraldas
malvas
musgas
crivadas em sutis amarelos

e as árvores
com as suas protuberantes
sépias peles
que absorvem
e suportam o machado do tempo
e proliferam
em mais raízes
e renovam
as folhas
para outro outono

o vegetal
que regenera
o metal
que enferruja
o floral reencontro
a adiada fuga
enquanto pode ser semente
enquanto pode ser corrente

diferentes se compactuam
 
C.R,G



Fotografia Izabel demarchi
 
 

Escada em Caracol

FASCINA-ME
OS DEGRAUS SOBREPOSTOS
SALTAM-ME AOS OLHOS
A ESCADA EM CARACOL
DO ALTO VEJO AO FUNDO
O SOL NEGRO
E AO FUNDO
DELE VEJO UMA LUZ
QUE VALE MAIS DO QUE UMA ESTRELA
OS CÍLIOS SERVEM COMO CORTINAS NEGRAS
QUE O PROTEGEM
DAS FUTURAS QUEDAS
E ESCORREGÕES
DOS CORRIMÕES
LISOS E IMPRUDENTES
 
 
C;R.G
 
 
 

Seja Vegetariano

SEJA VEGETARIANO
Mais sobre os PORCOS ( mais sobre sua senciência Leia )

Quando em seu ambiente natural porcos são sociais, brincalhões, animais protetores e que estabelecem vínculos, fazem ninhos, relaxam ao sol e refrescam-se na lama.

Porcos são conhecidos por sonhar, reconhecer seus próprios nomes, aprender “truques” como sentar por um prêmio, e levar uma vida social de uma complexidade anteriormente observada apenas em primatas.

Muitos porcos dormem em “pilhas de porcos,” assim como cães.

Alguns amam aconchego e outros preferem espaço. As pessoas que administram santuários de animais que incluem porcos, notam que eles gostam de ouvir música, brincar com bolas de futebol, e receber massagens.

O que dizem os especialistas

Porcos comunicam-se constantemente uns com os outros. Mais de 20 de seus oinks, grunhidos e gritos foram identificados por diferentes situações. Desde cortejar os seus companheiros a expressar fome .

Leitões recém-nascidos aprendem a seguir as vozes de suas mães e as porcas mães cantam para seus filhotes durante a amamentação.

Porcos têm memórias muito longas.
Porcos não “suam como porcos”, pois eles são na realidade incapazes de suar, e eles gostam de tomar banho em água ou lama, para ficarem frescos. Uma mulher desenvolveu um chuveiro para seus porcos, e eles aprenderam a ligá-lo e a desligá-lo.

Porcos são conhecidos por salvar vidas, incluindo de seus amigos humanos.

Pru – Conforme o London ‘s The Mirror “, uma porquinha de estimação chamada Pru salvou seu dono ao arrastá-lo para livrá-lo de um pântano lamacento.” Ele disse: “Eu estava em pânico quando estava preso no pântano. Eu não sabia o que fazer e eu acho que Pru sentiu isso …. Eu tinha uma corda comigo que eu uso como uma guia para cão e a coloquei em torno dela . Eu gritava, “Vá para casa, vá para casa!” – e ela andou para a frente, lentamente me puxando para fora da lama.”

Priscilla salvou um menino de afogamento.

Spammy levou os bombeiros a um galpão em chamas para salvar seu amigo bezerrro Spot.

Lulu encontrou ajuda para seu companheiro humano, que sofrera um ataque cardíaco.

Tunia afugentou um intruso.

Mona segurou a perna de um suspeito em fuga até a polícia chegar.

Muitos porcos em santuários acabam em suas novas casas depois de saltar de caminhões a caminho do matadouro e escapar.

Na Inglaterra, uma escultura em pedra de um porco chamado Butch foi colocada perto de uma histórica catedral depois que Butch e Sundance, seu amigo, fugiram de um matadouro e percorreram o país por vários dias antes de serem capturados. Felizmente, um clamor nacional contra o abate permitiu a Butch e Sundance irem para um santuário.

Você pode ajudar a salvar outros porcos assim como Butch e Sundance.

Considere tornar-se vegano(a).

Imagem de : Oinc,oinc,oinc
Texto de : http://www.gatoverde.com.br/veganismo/v-g-p/
 
 
 

Eternamente Pagu

Literatortura.
ETERNAMENTE PAGU -ENCANTO FEMININO
 
 

SABRE


O PESO PESADELO
MACHUCA OFUSCA
FERE CHAMUSCA A PELE
QUE EXPELE REVOLTA E RENÚNCIA
O PESO DE VIVER
PERDIDO NO PÊNDULO
DO RELÓGIO DO TEMPO
AUSENTE ISENTO
OBSCURO E LENTO
PARA RETALHAR
DESTROÇAR AINDA MAIS
O PESO OS PÊSAMES
SOBRE O QUE AINDA SOBRA
SABRE
C.R.G 


Foto de
Paulo Themudo.

sábado, 22 de junho de 2013

Nevoeiro

Nevoeiro
espesso vespeiro
branco noturno
aqui me infiltro
no feltro mistério oportuno
entre
descabeladas árvores
secas e frágeis
pela ação do outono
e tudo parece abandono
e mesmo assim procuro
ser o dono
do que já nem consigo mais ver
 
C.R.G
 
 
Alex Howitt
 
 

Toda essa Rede

toda essa rede
nylon mosaico
ralo dos sentidos
face biombo
e um fundo esmeralda
derretido
junto com o vermelho
que já foi sangue
ou talvez Campari
e agora se equipare
ao sumo perfumado
de uma rosa
toda essa rede
que envolve
borboletas pensamentos
prende ventos tormentos
libera brisas
nas frestas do tempo
 
 
C.R.G
 
 
 
Fotografia Izabel Demarchi

"O que está sempre falando silenciosamente é o corpo."

Norman Brown
 
 

Trêmula Metrópole

trêmula metrópole
e os seus olhos diagonais
refletindo desejos normais
de fugas
para ruas e todos outros logradouros
estertores
refletores suspensos
em postes retorcidos
olhares curtos e conformados
olhares compridos e ávidos
grávidos de brilhos
que podem se ofuscar
Paisagem urbana trêmula
que expõe o tédio dos prédios
novos e velhos
engessados ou vulneráveis...
como são miseráveis
os recantos noturnos
porque à noite
todos os receios despertam
 
C.R.G



© Alex Howitt
 
 

Escada um Olhar

toda a escada de certa forma fascina
vista de baixo ou de cima
para entrar ou para sair
rolar escorregar cair
degrau a degrau
toda escada
escala um
olhar
 
 
C.R.G
 
 
© Alex Howitt
 
 

Sem me importar com as aparências

SEI BEM DAS SUAS ADERÊNCIAS
DAS SUAS MARCAS E ELOQUÊNCIAS
NAS SEQUÊNCIAS QUE VIRAM SEQUELAS
E QUE POR ELAS SEMPRE VISLUMBRO UM HORIZONTE
QUE FAZ BRILHAR OS MEUS OLHOS
E APAZIGUAR A MINHA FRONTE
E TAMBÉM MAIS ALÉM
PURIFICAR A FONTE DE TODOS OS PENSAMENTOS
SEI BEM COMO SABE UM PAR DE TÊNIS JÁ RODADO
UM ALL STAR COM O SEU CORPO VAZADO
E PELE DE LONA RASGADA POR GRAVETOS
OU ARAMES FARPADOS
QUE OS SEUS ILHÓS OLHOS ESQUECERAM DE VER
E OS SEUS LARGADOS CARDAÇOS
NÃO PUDERAM DETER A LÍNGUA SOLTA
SEDENTA DE AVENTURAS
SEI BEM O QUE CONVÉM PARA A MINHA VIDA
CAMINHAR...CAMINHAR...
SEM ME IMPORTAR COM AS APARÊNCIAS...
DESPEJAR E LAPIDAR AS PEDRAS
POLIDAS E REPARTIDAS NA BIGORNA DO MEU PEITO
 
C.R.G


Não nos preocupamos com aparências.

A Flor e a Náusea

a foto de Corujando as palavras.
"A flor e a náusea" um dos meus prediletos de Carlos Drummond de Andrade.


Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Por fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros. É feia.
Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia.
Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
 
 

Poema de Outubro

foto de Nina Rizzi.
 
 
UM POEMA DO MENTOR DE BOB DYLAN
Eu que nem ligo pra aniversário (nem pra moda, rs), realmente me sinto feliz hoje: comemorar n'esta manhã tão linda de sol' depois de manifestações tão comoventes e genuínas pelo país afora. É isso! Vivanóis! e só pra não perder o bom costume, um dos mais belos poemas já escritos:

POEMA DE OUTUBRO

Era o meu trigésimo ano rumo ao céu
Quando chegou aos meus ouvidos, vindo do porto
e do bosque ao lado,
E da praia empoçada de mexilhões
E sacralizada pelas garças
O aceno da manhã
Com as preces da água e o grito das gralhas e gaivotas
E o chocar-se dos barcos contra o muro emaranhado de redes
Para que de súbito
Me pusesse de pé
E descortinasse a imóvel cidade adormecida.
Meu aniversário começou com as aves marinhas
E os pássaros das árvores aladas esvoaçavam o meu nome
Sobre as granjas e os cavalos brancos
E levantei-me
No chuvoso outono
E perambulei sem rumo sob o aguaceiro de todos os meus dias.

A garça e a maré alta mergulhavam quando tomei a estrada
Acima da divisa
E as portas da cidade
Ainda estavam fechadas enquanto o povo despertava.

Toda uma primavera de cotovias numa nuvem rodopiante
E os arbustos à beira da estrada transbordante de gorjeios
De melros e o sol de outubro
Estival
Sobre os ombros da colina,
Eram climas amorosos e houve doces cantores
Que chegaram de repente na manhã pela qual eu vagava e ouvia
Como se retorcia a chuva
O vento soprava frio
No bosque ao longe que jazia a meus pés.

Pálida chuva sobre o porto que encolhia
E sobre o mar que umedecia a igreja do tamanho de um caracol
Com seus cornos através da névoa e do castelo
Encardido como as corujas Mas todos os jardins
Da primavera e do verão floresciam nos contos fantásticos
Para além da divisa e sob a nuvem apinhada de cotovias.

Ali podia eu maravilhar-me
Meu aniversário Ia adiante mas o tempo girava em derredor.

Ao girar me afastava do país em júbilo
E através do ar transfigurado e do céu cujo azul se matizava
Fluía novamente um prodígio do verão
Com maçãs
Pêras e groselhas encarnadas
E no girar do tempo vi tão claro quanto uma criança
Aquelas esquecidas manhãs em que o menino passeava com sua mãe
Em meio às parábolas
Da luz solar
E às lendas da verde capela
E pêlos campos da infância duas vezes descritos
Pois suas lágrimas me queimavam as faces e seu coração
se enternecia em mim.

Esses eram os bosques e o rio e o mar
Ali onde um menino
À escuta
Do verão dos mortos sussurrava a verdade de seu êxtase
Às árvores e às pedras e ao peixe na maré.

E todavia o mistério
Pulsava vivo Na água e nos pássaros canoros.

E ali podia eu maravilhar-me com meu aniversário
Que fugia, enquanto o tempo girava em derredor.

Mas a verdadeira
Alegria da criança há tanto tempo morta cantava
Ardendo ao sol.

Era o meu trigésimo ano
Rumo ao céu que então se imobilizara no meio-dia do verão
Embora a cidade repousasse lá embaixo coberta de folhas no sangue de outubro.

Oh, pudesse a verdade de meu coração
Ser ainda cantada
Nessa alta colina um ano depois.

- Dylan Thomas; trad. Ivan Junqueira
 
 

ETERNA PAGU

ETERNA PAGU
E voltando à poesia, que não está separada da vida...

"É uma necessidade conversar com os poetas. E se os poetas morrerem,provocarei os mortos,as flores do mal que estão na minha estante."
( Pagu)

Ê Pagu,ê.

Patricia Galvão, musa modernista e eterna. Em homenagem a Pagu e a todos os poetas que escrevem poemas de uma ou de outra forma pela vida

Do meu livro As Dez Mil Coisas

Os poetas de nossa cidade

Supõe as aves, as águas, os peixes
os redemoinhos, as cachoeiras, as retinas
repousadas
Supõe a bem-aventurança, o desatropelo, a lucidez
casas térreas

Supõe a urbe desurbana
a integridade

E supõe o sertão, chão de estrelas, vagalumes

Os poetas de nossa cidade
Redivivos.
 

Stacey Kent - He Loves and She Loves

DESPERTAR

Igor Rodrigues.
 
 

ESCADA

A Lifetime Photography.
UMA ESCADA
AGUARDA OS PASSOS
DE ALGUÉM
UMA ESCADA
ESCALA NINGUÉM
ENQUANTO
ALGUNS DEGRAUS
IMPACIENTES
DESCOLAM
E ADEREM
NO VESTIDO
DA BAILARINA
FORJANDO PLISSÊ
UMA ESCADA
FLUTUA
NA SEDA ESTRUTURA
SEM PRESSA
SEM CORRIMÃO
UMA ESCADA
SE ALICERÇA
APENAS COM UMA MÃO
UMA ESCADA
SE ESCORREGA
E SE ENTREGA
À TENTAÇÃO DE UMA DANÇA
UMA ESCADA
BALANÇA...

C.R.G



Mercuro B Cotto
 
 

sábado, 15 de junho de 2013

Pega Leve

Alex Howitt.
pega leve
em toda essa neve
que atreve
congelar toda a paisagem
tente ser intrépido
enquanto tudo ainda
não se tornar gélido
perfurante como um iceberg
pega leve no esqui
deslize
ferva o boneco de gelo
que habita dentro de si
 
C.R.G
 
 

Acasos

revista piauí.
piauí_81 [cartuns] Ilustradora de Nova York colecionou histórias de pessoas que se esbarraram uma vez, encantaram-se mas nunca mais se viram http://goo.gl/0FI5o
 
 
 

Cogumelos e Guarda-Chuvas

entre cogumelos e guarda-chuvas
tampas negras e alvas
nada se salva nada é imune
às gotículas d'água que escorrem sobre as árvores
plantas e indumentárias
as tampas negras se movem...fogem até...
as alvas ficam paralisadas
fincadas no chão...
cada qual enfim em sua função paisagem
 
C.R.G
 
 
© Alex Howitt
 
 

A Psicologia do Amor

Revista Bravo!

Uma investigação literária no blog "O Transatlântico": Paulo Nogueira xereta os mecanismos amorosos e como o amor ocupa nossas cabeças, corações e almas
http://abr.io/InUb

Porosidade

sinto a porosidade do dia
os esguichos inflados das nuvens
refrescam e turvam os caminhos
líquidos espinhos espirram
e borrifam a paisagem
sombras se projetam em toda parte
nos muros na pista no teto
na figura no corpo ossatura
nos objetos mais indiscretos
na pele áspera que protege o concreto
 
C.R.G
 
 
© Alex Howitt
 
 

A Música em Pessoa

L&PM Editores.
Para fechar o dia de homenagens aos 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa, ouça lá no blog o poema "O rio da minha aldeia" interpretado por Tom Jobim no álbum "A música em Pessoa", lançado em 1985 por ocasião dos 50 anos da morte do poeta português >> http://bit.ly/18DwdnF
 
 
 

Fagulhas Poéticas

FAGULHAS POÉTICAS
O cantor que descreve em palavras o que os olhos veem está lançando um novo álbum de músicas autorias. Arnaldo Antunes no Som na Agulha. Confira: http://somnaagulha.com/2013/06/07/muito/
 
 
 
 
 

Ser Plural

SER PLURAL É ESSENCIAL
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, 18-9-1933

A Essência da Palavra

Célia Musilli.
preservar a essência da palavra
POESIA

Na Casa das Rosas, em 24 de maio, estive no lançamento de dois livros excepcionais: "Poesia Reunida" de Radovan Ivsic e "Desejo de um começo, Angústia de um só fim" de Edmond Jabès, ambos traduzidos por Eclair Antonio de Almeida Filho e publicados pela Lumme.
Annie Le Brun – ensaísta e viúva de Ivsic – estava presente, numa rápida conversa com ela me certifiquei que tem olhos cor de malva, enaltecida por Ivsic num de seus livros, Mavena, em que aparece uma mulher misteriosa. Só podia ser ela.

Numa entrevista, Ivsic disse coisas incríveis sobre as palavras:

’Como então viver? Como viver sem palavras, já que elas estão mortas? Como dizer a palavra água, quando a água está poluída, como dizer floresta, quando as florestas estão doentes ou abatidas, como dizer a palavra ar, quando ela transporta as radioatividades mortíferas? A ter visto como cada traição no que concerne as palavras, carrega mil outras e a pressentir a qual ponto a devastação da linguagem prepara a devastação da vida sob todas as suas formas - tal como nós a vemos hoje - posso apenas dizer para terminar:
Do poeta é preciso exigir uma única coisa: não deixar de ser poeta. Ele não deixa de ser poeta se ele se cala, se ele não escreve, se ele não publica. Mas ele deixa de ser poeta, a partir do momento em que ele consente em escrever a língua que mente, a “langue de bois”, a língua morta, mesmo se ele alinha milhares de versos.”

Segue link da entrevista de Ivsic na revista Agulha:
http://www.revista.agulha.nom.br/ag58ivsic.htm

Claudio Willer ,que tb esteve no lançamento, falou dos livros no seu blog:
http://claudiowiller.wordpress.com/tag/radovan-ivsic/

Foto: Lumme Editora.

Coruja

Corujando as palavras.
CORUJA
NÃO FUJA DA NOITE
AÇOITE O QUE NÃO É NOTURNO
NOCTÍVAGO
E SONHO
ARREGALE OS OLHOS
MOSTRE AS PENAS E GARATUJAS
NÃO FUJA
DO BREU QUE É TÃO SEU
NEGRO ESPELHO
QUE REFLETE A SUA BELEZA
NAS PROFUNDEZAS
DOS SEUS OLHOS
CARISMÁTICOS
 
C.R.G
 
 
Buenas noches lechuzas

sábado, 8 de junho de 2013

Patti Smith - Horses (1975) Debut Album Full

Encaro Escancaro

MOSTRAR A MINHA CARA
TIRAR A MINHA BLINDAGEM
OS VINCOS E VÍNCULOS DA FACE
ARRANHAR A IMAGEM
ESCANCARAR MEU LADO ANTI-HERÓI
REVELAR TODA A FRAGILIDADE
ESTOU AQUI
MAIS PELO MEU MEDO
DO QUE POR MINHA CORAGEM
ESTOU AQUI
MAIS PELA CÔMODA ESPERA
DO QUE POR MINHA ANSIEDADE
VEGETO E INJETO
APENAS INSETO
O NÉCTAR FLOR
DE UM JARDIM INCERTO



C.R.G

Equilíbrio

Alex Howitt.
EQUILÍBRIO

livre arbítrio
voar ou pousar
refletir ou ousar
aventura ou captura
antes que a paisagem
pelo nevoeiro
se dilua
 
C,R,G
 
 
 

nina simone - my baby just cares for me

Uivos em Versos

"O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano —

sai para fora do coração
ardendo de pureza —

pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor —
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
— não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:

o peso é demasiado

— deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho —

sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci."

Este é o poema "Canção" do livro "Uivo e outros poemas" de Allen Ginsberg -> http://bit.ly/Zj5Csc

KAFKA

[WEBTV] Apaixonado pela vida e assombrado pela morte, Franz Kafka foi um mistério para si mesmo e para os outros... Saiba mais sobre a vida e a obra do autor de "A metamorfose", "O processo" e "Carta ao pai" neste vídeo de 3 minutinhos >> http://bit.ly/OmFlyA

Preparativos de um Pulo

espatifar
trincar
resguardar
olhar o mundo ao redor
felino
fatídico
fugaz
talhar
em forma de ágata
o que desgasta
e o que resgata
a fuga
e o encontro
os preparativos
de um pulo
 
 
C.R.G



© Alex Howitt

Folha Rubra

FOLHA RUBRA

e que me cubra
e que cobre
o mais nobre
dos sentimentos
folha rubra
em forma de lábios
que flutua
depois de haver
sido tecido
de futura flor
talvez rosa
e que descubra
por si própria
no jardim noturno
o quão foi oportuno
ser parte
invólucro
e agora livre
e envolvente
folha
beijo
colar e descolar
a qualquer tempo
 
 
C.R.G
 
 
Fotografia Izabel Demarchi

Guardar


Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance de um poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Antonio Cícero