terça-feira, 30 de julho de 2013

Sem Palavras

foto de Paulo Stocker.

NÃO PRECISA DIZER NADA
]NÃO PRECISA GRITAR
BASTA OLHAR
PARA FERVILHAR EMOÇÕES
BORBULHAR SENTIMENTOS
DESPERTAR AS FLORES
INCLINAR OS PRÉDIOS
ATIÇAR AS JANELAS
ASSUMIR O LADO ROMEU
E JULIETA SENTIRÁ SER SERESTA
 
 
C.R.G
 
 
 

Jacques Brel - L'amour est mort

ESCAPA

ESCAPA DESSA CAPA
SAÍA DESSA MOLDURA
ESCANCARE
A VIDA É SUA
NINGUÉM TEM NADA A VER COM ISSO
QUEBRE O VIDRO
MOSTRE O VIÇO
 
 
C.R.G
 
 
 

Polichinelo

— REVISTA POLICHINELO 14 • Literatura Selvagem —
Editores: Nilson Oliveira | Izabela Leal

e d i ç ã o • a g o s t o 2013

ERA, Max Martins 12 • O ANIMAL SORRI, Max Martins 13 • ESTA ÉGUA QUE PASTA A GEOGRAFIA, Max Martins 14 • NO TREM, PELO DESERTO, Mário Faustino 15 • "A" DE ANIMAL, Gilles Deleuze & Claire Parnet 16 • A OVELHA NEGRA & OUTRAS FÁBULAS, Augusto Monterroso 20 • SABERES ANIMAIS, Maria Esther Maciel 21 • SELVAGENS, Luiz Bras 23 • POEMAS, Annita Costa Malufe 24 • A LAGARTIXA É UM XAMÃ, Ramon Cardeal 26 • PENSAMENTO SELVAGEM, PENSAMENTO DO OUTRO: O IMPOSSÍVEL DIÁLOGO COM MONTEZUMA, Maria Elisa Rodrigues Moreira 27 • SELVAGEM, Solange Rebuzzi 31 • O INFANTE SELVAGEM: PEQUENO TRATADO SOBRE LINGUAGEM E INFÂNCIA, Luciano Bedin da Costa & Larisa da Veiga Vieira Bandeira 32 • NOVAS REVELAÇÕES DO PRÍNCIPE DO FOGO, Marcelo Ariel 37• PLEGÁRIA, Jussara Salazar 40 • NOITE ROMANA, Pier Paolo Pasolini 41 • O NEGRO E AS CERCANIAS DO NEGRO, Haroldo Maranhão 42 • 44 FANTASIAS PARA ESCREVER, LER E CRITICAR O TEXTO (DE PREFERÊNCIA, SELVAGEM), Sandra Mara Corazza 46 • LÉVI-STRAUSS, Marcia Tiburi 50 • CONFIANÇA, Suely Rolnik 52 • DEITADO SOBRE O RIO, Evandro Nascimento 59 • FAVOS, Arturo Gamero 61 • COMO SE NASCE NUMA ILHA DESERTA?, Eduardo Pellejero 63 • FÁBULA, José Kozer 67 • ANOTAÇÕES PARA UMA FÁBULA, Afonso Henriques Neto 69 • DO OUTRO LADO DA PAREDE DO SONHO, Delfín Nicasio Prats 72 • A IMPOSSIBILIDADE DO POEMA FICA DECLARADA AO RODAPÉ DA PÁGINA, Camila do Valle 73 • O POEMA COMO NORTE – OU A DESESPERAÇÃO DO HOMEM QUE NÃO ESTÁ NA CIDADE, André Queiroz 74 • CARTA DE CAMILLE CLAUDEL A AUGUSTE RODIN, Andreev Veiga 79 • PARA CONVENCER O ARTISTA A COMETER SUICÍDIO, Henry Miller 82 • CAIO DAS PÁGINAS NOS TEUS BRAÇOS, Heleine Fernandes 84 • EÇA EM HAVANA, Ney Ferraz Paiva 87 • ENTRE MUITOS, Wislawa Zsymbórska 88 • WISLAWA. FEVEREIRO, 2012, Antônio Antonio Moura 89 • O SACRIFÍCIO, Giselda Leirner 90 • ANNE OF AMY DEAD HEART?, Juliete Oliveira 95 • E QUEM CONSIDERA ALGO DE SÚBITO, Mario Arteca 96 • QUELLO CHE TU VUOI, Claudio Oliveira 97 • A RESPIRAÇÃO CORTADA, Contador Borges 100 • AUTOBIOGRAFIA SELVAGEM, Claudio Willer 102 • A ASCENSÃO DE LAURA, José Cardona-López 103 • POEMAS, e. e. cummings 104 • PEDRAS DESCALSAS, Jair Cortez 105 • LÚCIFER NO CÉU, COM DIAMANTES, Andréia Carvalho 108 • POEMA, Ana María Ponce 109 • POEMAS, Hilde Domin 110 • A BALADA DO JOVEM SIENKIEWICZ, Francisco dos Santos 111 • HA!HABSBURGO - UM RETORNO, Leonardo Gandolfi 112 • POEMAS, Ronald Augusto 114 • DO LIVRO (INÉDITO) GLADIS MONOGATARI, Víctor Sosa 115 • LE PETIT CHAPERON ROUGE DORME, Virna Teixeira 116 • DO SONETARIO MATTOSIANO, Glauco Mattoso 117 • LOST DOG, Benoni Araújo 118 • DEVELAR, Juan Arabia 119 • FRAGMENTO DE "CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA", Dalcídio Jurandir 120 • [LUA ÂMBAR] [NONA SELEÇÃO], Ana Carmen Amorim Jara Casco 124 • NÃO PERGUNTES POR QUE TOCO O TEU ROSTO, Marceli Andresa Becker 126 • COMO NASCEM OS SEGREDOS, Roberta Tostes Daniel 127 • LIVRO DE ORAÇÕES, Daniel Faria 128 • SYLVIA QUEIMA, Anna Apolinário 129 • AOS VENTOS, Vasco Cavalcante 130 • SUSPENSÃO, Lara Amaral 131 • BREVES NARRATIVAS, Henry Burnett 132 • ORATÓRIO, Fabiano Calixto 133 • APOÉTICA DE MANOEL DE BARROS: DEVIR CRIANÇA, Silvana Tótora 135 • CONECTURAS, Milton Meira 140 • QUANDO PSICANÁLISE E LITERATURA CONVERSAM TÊTE-À-TÊTE, Nájla Assy 141 •

Capa: Elaine Arruda
 
 
 

Humildade


A FACE FASCINA OU FACÍNORA
TIRE A SUA MÁSCARA
REMOVA A MAQUIAGEM
NINGUÉM É UMA ILHA
ABAIXE A SUA PILHA
CONTROLE A SUA VOLTAGEM
QUE VANTAGEM É ESSA
NÃO ARRANHAR A IMAGEM
E CORROER A ALMA?
ENTÃO ESFRIA A CABEÇA
ESQUENTE O CORAÇÃO
CHUTA O BALDE
RESFRIA A FOGUEIRA DAS VAIDADES
MOSTRE SEUS OLHOS ÚMIDOS
SE ENTERNEÇA E OBEDEÇA
OS DESÍGNIOS PUROS

Bexiga Coração

foto de Paulo Stocker.
ENTRE ESCADAS E CASTELOS
JANELAS E SEUS OLHOS QUADRADOS
ENTRE GRADES E DEGRAUS
AGRADOS E SARAUS
NUVENS E ANTENAS
EXPLÍCITAS CENAS
TUDO SE CONVERGE
A UM SALTO BREVE
QUE LEVE AO CÉU
UMA BEXIGA CORAÇÃO
 
 
 
C.R.G
 
 
 
 

AURORA

AURORA

A AURORA SE APROXIMA
VERMELHA
E TINGE TODO O AZUL
QUE FICOU PARA TRÁS
E O MEIO LILÁS
QUE COBRIU UM SONHO
OS OLHOS DE MABE
VERMELHOS DE DOR
TRANSPLANTAM
AS CORES DE FLORES PASSADOS
E RESPINGOS DE ORVALHOS
QUE SE TRANSFORMAM EM CÁCTUS
 
C.R.G
 
 
 
 
Manabu Mabe
 
 
 

domingo, 28 de julho de 2013

All Star

foto de Converse Brasil.
 
 
ALL STAR
NÃO SEI QUAL DELES CALÇAR
HÁ RUMORES DE CAMINHOS
CADARÇOS CARENTES
DE CARINHOS
PELES DE LONAS
QUE NÃO REJEITAM
ESPINHOS E CARRAPICHOS
ALL STAR
DEIXA ESTAR
ENQUANTO UMA PEDRA ROLAR
ME SENTIREI CAMINHO
MESMO SE FOR
APENAS UM OLHAR
MAIS APRESSADO
 
C.R.G
 
 
O primeiro Converse a gente nunca esquece, nem o sétimo!

#converselover @ Carol Oliveira

[+] http://conv.rs/colecao
 
 

Etiqueta

a foto de TonhOliveira Oliveira.
 
 
PRECISA DE ETIQUETA
PRÁ COMER COM PAUZINHOS
PRÁ ENTRAR NO JOGO DA VELHA
PRÁ ESTICAR AS CANELAS
PRA CAIR NA SARJETA
PRÁ PENSAR SÓ EM UMA
E BEBER TODAS ELAS
PRECISA DE ETIQUETA
O QUE ESTÁ TÃO FLAGRANTE
E NÃO SUPORTA
NENHUMA IMPOSIÇÃO
NEM MESMO UM FRÁGIL BARBANTE?
 
 
C.R.G


"hash i tag" - (para comer com os pauzinhos precisa-se de etiqueta?)

:o)

Retrato de uma Árvore

foto de Sônia Brandão.
 
RANHURAS
RACHADURAS
TALHES
QUE APURAS
ÀS MAIS RIGOROSAS INTEMPÉRIES
E IMPLACÁVEIS VENDAVAIS
A AÇÃO DO TEMPO
FRAGMENTOS
DO QUE AINDA SE PRESUME ÁRVORE
CASCA LASCAS
OCRE MÁRMORE
E AINDA PRODUZ
SOB TODA A LUZ
SOMBRAS PARA SERENAR
OS PENSAMENTOS
FILAMENTOS
OLHOS QUE BROTAM
LÁBIOS GRAVADOS
EM BRAÇOS DE GALHOS
EM RETALHOS SOBREPOSTOS
EM CONTRASTES
COM TIJOLOS APARENTES
E TELHAS QUE UM DIA
JÁ FORAM ARGILA
QUIÇÁ RAIZES
 
C.R.G


ÁRVORE

TANTOS BRAÇOS
ESTICADOS
DELICADOS
FRÁGEIS GALHOS
DELGADOS
TANTOS DEDOS
SEM MEDOS
ESTENDIDOS
QUASE DESPROTEGIDOS
DE UNHAS FOLHAS
QUE PROCURAM
TOCAR O CÉU
AS FRUTAS NUVENS
ENQUANTO O TRONCO
AS SEGURAM
E MOSTRA A CASCA PELE
AS VEIAS GRANULADAS
INTERCEPTADAS
PELA SECURA
O SANGUE SEIVA
QUE SUGA
O CORPO MADEIRA
E A FLORA ALMA
 
C.R.G
 
 
Você aí, que escurece o meu caminho, não sabe o valor de um solzinho!
Homem Arara

Fotografia Izabel demarchi
 
 
 

Antonio Cândido

O MAIOR CRÍTICO LITERÁRIO DO BRASIL
A vocação crítica de Antonio Candido

Releia entrevista em que ensaísta, que completa 95 anos hoje, fala com o jornalista Manuel da Costa Pinto sobre seu papel na transformação da crítica brasileira, suas referências e os livros "Textos de Intervenção" e "Bibliografia de Antonio Candido"

http://goo.gl/Hxirps
 
 
 
 

Beba do meu Vinho

BEBA DO MEU VINHO
BEBA DO MEU SANGUE
SUJE O SEU LINHO
ATÉ QUE ELE ESTANQUE
E ARRANQUE DAS FERIDAS
DAS PAPILAS
TODA A EFERVESCENTE PAIXÃO
BEBA DO MEU VINHO
BEBA DO MEU SANGUE
TROQUE A SUA TAÇA
BRINDE
E AFASTE TODAS AS TRAÇAS
DA CANTINA ROTINA
TIRE COM FÚRIA
AS ROLHAS DAS SUAS RETINAS
DESPEJE O TONEL NA PELE FRIA
BEBA DO MEU VINHO
AINDA JOVEM
BEBA DO MEU SANGUE
AINDA QUENTE
QUE CONSERVA O SABOR DA PAIXÃO
BEBA DO MEU VINHO
BEBA DO SANGUE
EMBRIAGUE O MEU CORAÇÃO
 
C.R.G
 
 
 
" O vinho é um composto mágico: mata a sede, mata a vontade, mata a saudade. Faz nascer o calor, acende a paixão, desperta o amor. Traz luz para a vida, sabedoria, bom gosto, desejo. alegra a mesa, acorda o homem, solta a mulher."

Carolina Salcides
 
 
Foto de Izabel Demarqui
 
 

Leque de Barcos

foto de Alex Howitt.
Há um leque
de barcos
à espera
à deriva
madeira viva
que deseja
o contato
d'água
do rio ou do mar
para refrescar
o seu corpo maciço
castiço
polido
quase sem farpas
harpas desprovidas de cordas
mas que imitam
os sons aquáticos
e esclarecem a quântica poesia
 
 
C.R.G


Revelação

oto de Joàn Miró.

SALTO UM OLHO
DESARRUMO AS SOMBRACELHAS
CINTILO OS CÍLIOS
CENTELHAS
ABRO OS OUVIDOS
ENTRE RUÍNAS E RUÍDOS
RESMUNGOS
ABRO A BOCA
PASTILHO
HÁLITOS
SALIVAS
ESCANCARO A MINHA FACE
 
 
C.R.G
 
 

Garota de Ipanema

foto de Lima Junior.

QUEM SE LEMBRA
DA GAROTA DE IPANEMA
MUSA TROPICAL
COLÍRIO DE VINICIUS
DELÍRIO DE TOM
QUEM SE LEMBRA DO BEM BOM
COPACABANA IPANEMA LEBLON
SEM ARRASTÕES
E GANÂNCIAS IMOBILIÁRIAS
QUEM SE LEMBRA
DESSE EMBLEMA FEMININO
POESIA EM SEDUÇÃO
UM BANQUINHO E UM VIOLÃO
QUEM SE LEMBRA
DA GAROTA DE IPANEMA
DA PRAIA E ESCALDANTE AREIA
DA NOUVELLE VAGUE
SURFANDO NO CINEMA
DA ESSÊNCIA 60
DO SIMPLES QUE OSTENTA
DO WHISKY MERGULHADO E MISTURADO
NA ÁGUA DE COCO
QUEM SE LEMBRA
QUE ERA DIFÍCIL ENCONTRAR UM CORAÇÃO ÔCO
VERSOS ECOAVAM...
AINDA MAIS QUANDO ELA PASSAVA
E DEIXAVA UM SOL DE FUTURO
 
 
 
C.R.G
 
 
 
 
 
Theme: Girl from Ipanema
Technique: Oil on Canvas Textured
Dimension: 50 X 70 cm
 
 

Rimbaud

Pílulas de literatura: Rimbaud, o veneno e uma noite no inferno

"Bebi um enorme gole de veneno. — Bendito seja três vezes o conselho que me deram! As entranhas me queimam. A violência do veneno contorce meus membros, me torna disforme, me derruba. Morro de sede, sufoco, não posso gritar. É o inferno, a pena eterna! Vede como o fogo sobe! Queimo, como sói. Vamos, demônio!
Eu vislumbrara a conversão ao bem e á felicidade, a salvação. Possa eu descrever a visão, o ar do inferno não tolera os hinos. Eram milhares de criaturas encantadoras, um suave concerto espiritual, a força e a paz, as nobres ambições, sei lá que mais.
As nobres ambições!
E é ainda a vida! — Se a danação é eterna! Um homem que se quer mutilar é um danado, não? Creio-me no inferno, então estou nele. É a realização do catecismo. Sou escravo do meu batismo. Pais, fizestes a minha desgraça e também, a vossa. Pobre inocente! O inferno não pode atacar os pagãos. — Ainda é a vida! Mais tarde, serão mais profundas as delicias da danação. Um crime, rápido, pois caio no vácuo, em razão da lei humana.
Cala-te, cala-te mesmo!...Aqui é a vergonha, a reprovação: Satã diz que o fogo é ignóbil, que minha cólera é atrozmente estúpida. — Basta!...Erros a que me induziram, magias, perfumes falsos, músicas pueris. — E dizer que tenho a verdade, vejo a justiça: tenho um julgamento são e firme, estou pronto para a perfeição...Orgulho. — Meu couro cabeludo se resseca! Piedade! Senhor, tenho medo. Tenho sede, tanta sede! Ah! A infância, a relva, a chuva, o lago sobre as pedras, o luar quando o sino tocava a meia-noite...o diabo está no campanário, nessa hora. Maria! Virgem Santa!...— Horror de minha imbecilidade.
Lá embaixo, não estão as almas honestas que me querem bem?...Vinde...Tenho um travesseiro sobre a boca, elas não me ouvem, são fantasmas. Além do mais, pessoa alguma pensa noutra. Que não se aproxima. Cheiro a condenado, é certo.
As alucinações são inumeráveis. É em verdade o que sempre tive: não mais fé na historia, esquecimento dos princípios. Silenciarei sobre isso: poetas e visionários sentirão ciúmes. Sou mil vezes o mais rico, sejamos avaros como o mar.
Ah, isto! há pouco parou o relógio da vida. Já não estou no mundo. — A teologia é seria, o inferno certamente está embaixo — e o céu no alto. — Êxtase, pesadelo, sono em um ninho em chamas.
Quantas milícias ao olhar atentamente o campo...Satã, Ferdinando, corre com os grãos silvestres...Jesus caminha sobre as sarças purpúreas, sem curvá-las. Jesus caminhava sobre as águas irritadas. À luz da lanterna o vemos em pé, com tranças trigueiras e branco, no seio de uma onda esmeralda...
Vou desvelar todos os mistérios: mistérios religiosos ou naturais, morte, nascimento, futuro, passado, cosmogonia, nada. Sou mestre em fantasmagorias.
Escutai!...
Tenho todos os talentos! — Aqui não há ninguém e há alguém: não gostaria de dissipar meu tesouro. — Querem cantos negros, danças de huris? Querem que eu desapareça, que mergulhe em busca do anel? Querem? Farei ouro, remédios.
Confiai em mim, então, a fé consola, guia, cura. Vinde, todos, — mesmo as criancinhas, — que eu vos consolarei, distribuirei entre vós meu coração, — o coração maravilhoso! — Trabalhadores, pobres homens! Não peço preces: serei feliz apenas com a vossa confiança.
— E pensemos em mim. Isto me faz deplorar pouco o mundo. Tenho a sorte de não mais sofrer. Minha vida foi só doces loucuras, é lamentável.
Ora! Façamos todas as caretas imagináveis.
Decididamente, estamos fora do mundo. Não mais sons. Meu tato desapareceu. Ah! Meu castelo, minha Saxônia, meu bosque de salsos. As tardes, as manhãs, as noites, os dias...Estou cansado!
Deveria ter meu inferno para a cólera, meu inferno para o orgulho, — e o inferno de caricia; um concerto de infernos.
Morro de lassidão. É a tumba, rumo aos vermes, horror dos horrores! Satã, farsante, queres me dissolver, com teus encantos. Protesto. Protesto! um golpe de forcado, uma gota de fogo.
Ah! voltar à vida! Lançar os olhos sobre nossas deformidades. E este veneno, este beijo mil vezes maldito! Minha fraqueza, a crueldade do mundo! Meu Deus, piedade, esconde-me, mal me sustento! Estou oculto e não estou.
É o fogo que se reaviva com seu condenado."

Arthur Rimbaud. Uma Temporada no Inferno.

www.issocompensa.com
www.facebook.com/issocompensa
 
 
 

Devoção á Liberdade

DEVOÇÃO À LIBERDADE
28 de julho – DIA DA LIVRE MANIFESTAÇÃO DO NU NO FACEBOOK

“Aquilo que vem ao mundo para nada perturbar não merece respeito nem paciência.”

(René Char)


Esta postagem de nudez artística faz parte de um movimento contra a censura no Facebook. A censura vai contra a Constituição do meu país. Se o Facebook opera aqui no Brasil, deve respeitar suas leis.

- o artigo 5. IX. da Constituição brasileira é claro: "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença";

- o artigo 220 é ainda mais claro: "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou meios não sofrerá restrição, observando o disposto nesta Constituição".

***

This postage of an artistic nude is part of a movement to rule out cultural Censorship in Facebook. Censorship goes against the constitution of my country. If Facebook operates here in Brazil it should respect its laws.

- Article 5. IX. of the Brazilian constitution is clear: “expression of intelectual, artistic, scientific and communication content is free, independently of censorship or licence”.

- Article 220 is even more clear: “manifestation of thought, creation, expression and information, under any form, process or means will not undergo restriction according to this Constitution”.

Foto: Rogi André (1927)
 
 

Correspondências

foto de Regina Gulla.
tocante aquarela
 
 
Correspondências

Recebi umas linhas
Entregou-me o carteiro
aqui no Murinho
da Fradique Coutinho
a palavra SOL
se abrindo
feito novos
ovinhos
é um ninho?
olha aqui…
O Sol se multiplica…
Que é isso?
Meninos e meninas
descobrindo
no poema do seu
genoma
seu Sol na gema
do ovo com pitada de sal
e mel
–O meu? É moeda de um real
–Ah, o meu é girassol!
–Quer saber do meu?
é a nota sol
musical
e assim vai
nessa sexta de maio
meu Sol é diamante
o meu é o olho do céu
o meu é bússola
o meu é o notebuque
o meu me assusta
tão astro
o meu é mastro
o meu é barriga de mulher
grávida
o meu é todo
de ouro
o meu é foto
o meu é fogo
na roupa
o meu é panela com farofa
de mandioca
Oba!
o meu é jóia
o meu é ostra
o meu é bumbum de moça
o meu é bola
do futebol de Deus


Cada Sol que me aparece por aqui
nesta noite gris
de Sampa
Olha cada Sol
por escrito
recém-nascido
cada Sol vagido
Sois voz desses meninos
benditos.
Que coisa!

O Gatinho
 
 

CADEADO


"abertOFFechado"

CADÊ O CADEADO
QUE SE ABRE DE UM LADO
E SE FECHA DE UM OUTRO
E NÃO SE SENTE ISOLADO
CADÊ O CADEADO
PESADO METÁLICO
E O GRÁFICO VIRTUAL
LEVE E TEMPERAMENTAL
QUE FICA OFF
QUANDO SE PRENDE
E ON QUANDO SE ARREPENDE
CADÊ O CADEADO
QUE LIBERA E QUE RESGUARDA
EM QUE CHAVE ELE AGRADA
EM QUE VOLTA ELE AGRIDE
EM QUE PORTÃO ELE DORME
EM QUE MÃO ELE SE ARREBENTA
CADÊ O CADEADO?



C.R.G

 







 


domingo, 21 de julho de 2013

Coruja

foto de Corujando as palavras.
Absolutamente linda.
Via: VIBE.
 
 
 

Compulsivo

PORQUE EU QUIS SER MAIS DO QUE PONTE
HORIZONTE E TODA FRONTE DA PAISAGEM
E PORQUE EU QUIS SER MAIS DO QUE UMA IMAGEM
VIAGEM EM TODOS OS LUGARES E SENTIDOS
ENTÃO OPTEI POR TRAÇOS COMPULSIVOS
PARA NÃO PERDER NENHUM DETALHE
E AINDA COLOQUEI ÓCULOS E TÚNEIS
DEBAIXO DA PONTE PARA QUE O RIO
NÃO FOSSE APENAS RIO MAS FONTE
E QUEM SABE MAIS ADIANTE MAR
PARA ABRIGAR MAIS RISCOS BARCOS
E CROMÁTICOS NAVIOS
 
C.R.G


fotografia Izabel Demarchi
 
 

Baixo Acústico

ADORO OUVIR O BAIXO ACÚSTICO
ESSE CORPANZIL RÚSTICO
QUE INTERPRETA TODOS OS LAMÚRIOS
E EXTRAÍ TODOS OS MURMÚRIOS
ESSE INSTRUMENTO QUE MESMO EM MOMENTOS TORMENTOS
SUBLIMA OS SONS E FAZ DUETO PERFEITO
COM AS 88 TECLAS DO PIANO
 
 
C.R.G
 
 
Festival de Inverno de Paranapiacaba

Fotografia Izabel demarchi

GRAFITO

foto de Semióticas.
GRAFITO O SEU NOME EM MEU MURO
SEM LEI E COM TODO O SPRAY
QUE DISPONHO
RISCO NA RISPIDEZ DO CONCRETO
A GIZ CARVÃO LÂMINA OU CANIVETE
A GRAFIA DE UM SONHO
 
C.R.G
 
 
Arte das ruas

Nas últimas décadas, o grafite deixou de ser simplesmente uma arte improvisada nas ruas, registrada em muros e fachadas, para ganhar cada vez mais prestígio em grandes galerias e museus e deixar de ser confundida pelos leigos com pichação e vandalismo. A arte do grafite pode mudar as pessoas, a atitude que elas têm diante da vida e do mundo ao redor...

Veja mais em:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/10/vida-de-artista.html

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com/2011/07/arte-do-grafite_15.html
 

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SOMBRA FELINA



MUITAS VEZES
O QUE RETORNA AO MEU LAR
É APENAS A MINHA PRÓPRIA SOMBRA
MUITA COISA FICOU PARA TRÁS
PERDIDA EM ALGUMA RUA
EM UM SÓRDIDO BECO
OU ESQUECIDA LUA
VOLTA
QUASE SEM REVOLTA
A MINHA SOMBRA FELINA
ARRANHANDO PORTAS E PAREDES
BUSCANDO MATAR A SUA SEDE DE LUZ
 
C.R.G
 
 
 

© Alex Howitt
 
 
 

Miles Davis - Kind Of Blue [Album Completo]

AS FOLHAS

AS FOLHAS NÃO FALHAM
AS FOLHAS PREPARAM NOVAS PAISAGENS
BUSCAM NOVAS PARAGENS
FOGEM ENTRE ÁRVORES
DESLIZAM SOBRE À TERRA
0U SIMPLESMENTE
FICAM A MERCÊ DOS VENTOS
AS FOLHAS
VEGETAIS FELTROS
FILTRAM A NATUREZA
E POETICAMENTE A CLOROFILA
 
C.R.G
 
 

Lírica

FOTOPOEMA



Janela da Alma - Documentário

LIFE

foto de Poesia concreta.
"o livro de ideogramas como um objeto poético, produto industrial de consumação. feito à máquina. a colaboração das artes visuais, artes gráficas, tipográficas. a série dodecafônica (anton webern) e a música eletrônica (boulez, stockhausen). o cinema. pontos de referência." (décio pignatári, nova poesia: concreta, disponível em http://www.poesiaconcreta.com.br/texto_view.php?id=6)

LIFE, poema em forma de encarte dividido em seis paginas de décio pignatari, publicado na revista Noigandres, posteriormente coligido no livro 'Poesia pois é poesia',
 
 
 

The Artist

foto de The Artist.
SHARE if you loved The Artist! Come relive the magic with us and for only half the price today at Barnes & Noble! http://bit.ly/12jKXDL
 
 
 

EMARANHADO


RUMOS E RUMORES
REDES APRAZÍVEIS E DE INTRIGAS
TEIAS FLEXÍVEIS E ARACNÍDEAS
HUMORES E TUMORES
ATALHOS E LABIRINTOS
RISCOS DE VIDA E VÍTREOS
MAPAS GPS OU QUE SE ESQUECE ÍNTIMO
FIOS DE HORIZONTES
INFINITOS E ÍNFIMOS
AGULHAS NOS PALHEIROS
KRIPTON
REFLEXOS DE GRITOS
NO EMARANHADO ESPELHO
EM QUE ME FITO FIXO
E VEJO NÍTIDO
TODA A MINHA INCONSTÂNCIA
 
C.R.G


( Foto de Nelson de Souza )
 
 

PALITOS

foto de Faber-Castell Brasil.
Palitos de sorvete colados podem se transformar em diversos objetos diferentes, como um prático porta-trecos!

É possível dar ainda mais cor pintando os palitos previamente com Tinta Guache ou Marcados Permanentes Faber-Castell.

Se você gostou da ideia, poste em nosso mural como ficaram suas caixinhas de palito de sorvete decoradas com Faber-Castell! Veja o passo-a-passo no link: http://bit.ly/14U4ngH
 
 
 

Lucia Viola

E eis mais uma boa notícia: a flautista brasileira Lucia Viola, radicada há anos em Londres em breve lançará novo CD ! Sobre seu álbum anterior, o excelente SUNDIAL, escrevi na Revista GERMINA - de literatura e arte esta resenha: http://www.germinaliteratura.com.br/2009/musica_beatrizamaral_out2009.htm
 
 
 
 

NUVENS

foto de Sônia Brandão.

AS NUVENS PREVALECEM
E SE ENVAIDECEM
QUANDO COBREM O CÉU
BRANCAS PRATEADAS
CINZAS OU ESCURAS
AS NUVENS FLUTUAM
ENQUANTO AS ÁRVORES NUAS
PERFURAM A PAISAGEM
 
C.R.G
 
 

CARRAPICHO

Eu desejei cruzar o seu caminho
não como um pedra
tão pouco como espinho
talvez como um esguicho
para abastecer de agua-fonte
a fronte do seu jardim
Eu quis cruzar o seu caminho
com rastros de luzes
e alergias de sombras
emprestar o amarelo das margaridas
e afastar o verde incõmodo das urtigas
Eu me espicho todo
feito bicho tolo sem preguiça
que cobiça os mistérios da floresta
mas percebi que eu não posso ser pétala
e desprovidos das asas de colibri
eu assustado joão-de-barro voltei para o meu domicílio
e na argila em meu bico dissolvi o capricho
de voos mais altos e vi você lá embaixo
retirando indiferente o simples e intruso carrapicho
que eu fui para o seu jeans!
 
C.R.G


CARRAPICHO