sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Bagunça

a gente só se acha na bagunça´´´~´´´´
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
cadê o All Star do pé esquerdo
a palmilha do pé direito
o cadarço ficou no embaraço
do rotor da lavadora
e agora onde está o meu pente
ontem mesmo ele estava rente
ao bolso traseiro do meu jeans
cadê a minha caneta
e a pequena caderneta
sem elas como escreverei
versos pelas ruas
debaixo das árvores
roubando o seu olhar
numa adorada fotografia
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
onde está o molho de chaves
e agora como vou abrir
a porta do escritório
o portão de casa
o cofre cheio de contas
o baú que eu tento esquecer
como eu vou abrir
tudo o que me prende
tudo o que cativa
e tudo o que já se arrepende
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
 
Carlos Roberto Gutierrez
 
 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Tempo Apaga

o tempo apaga
tudo se esvaí
e caí no esquecimento
o tempo traí e traga
mesmo a promessa
que se propaga
como eterna
o tempo apaga
mesmo quando
algo forte se agarra
e hiberna na caverna
do coração
que um dia derreteu
e depois
se tornou pedra
o tempo apaga
consome-se em cinzas
o fogo a chama
do que era

Carlos Roberto Gutierrez
 
 

Sem Remorsos



NÃO SE CULPE
CUSPE E ESCULPE
NÃO SE DESCULPE
OCUPE DECUPE
NÃO SE PREOCUPE
AINDA HÁ TEMPO
CONTRATEMPOS
PASSATEMPOS
TÊMPERAS E TEMPORAIS
NÃO ME CULPE
PELA SUA CULPA
PELA SUA CÁPSULA
PELA SUA CÚPULA
FLUÍ E COAGULA
ARRUMA E ESTRANGULA
FOMOS TÃO INOCENTES
SOMOS TÃO INOCENTES
DECENTES E OBEDIENTES
INDECENTES E DECADENTES
IMATUROS FRACOS
MADUROS FORTES
DUROS NA QUEDA
PODRES PERECÍVEIS
INSENSATOS E SENSÍVEIS
O TEMPO SE FAZ DE VENTO
OU DE BRISA
NÃO AVISA
PASSA CONSTRÓI E DEVASTA
CORRE FOGE OU SE ARRASTA

Carlos Roberto Gutierrez

Rabiscos, cigarro e vinho barato.

Depois, bem depois, vem o tempo e nos mostra a verdade como se fosse um passo de dança. Suave, intenso, inteiro. Ele vem e mostra. E aí a gente olha para trás e pergunta: porque não agi diferente? Porque você não tinha o conhecimento que tem hoje. Não tinha a maturidade deste momento. Não te culpa. Não me culpa. A gente não tem culpa

Arquiva

arquiva
não se esquiva do passado
de todas as esquinas do tempo
arquiva
com método ou a revelia da memória
mesmo à deriva da sua história
ou da sua fábula
arquiva tudo o que gosta
o que já conseguiu resposta
arquiva
os instantes em estantes
comprimidos em seus neurônios
arquiva
os livros gibis e suplementos
os dvds as músicas os filmes
as cenas as legendas e entrelinhas
arquiva em linha
ou descontinuadamente
arquiva
e facilite as consultas futuras e prementes
aumente o seu acervo sem servidão
zele pela sua biblioteca
particular e interior
quem sabe
ainda haverá um interessado leitor
e a releitura já não será a mesma

Carlos Roberto Gutierrez

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Musa

a musa
abusa
do seu poder
de sedução
a musa
nítida ou difusa
sempre em constante
mutação
a musa esclarece
cresce aos olhos de um poeta
flutua
em palavras doces
românticas
e também desconexas
simples ou complexas
a musa
deixa clara ou confusa
a paleta de um pintor
apressado ou paciente
a musa
tem esse dom atraente
de estar longe
e ao mesmo tempo
estar rente
entre a realidade e o sonho
a musa provoca
um olhar diferente
desvenda outros ângulos
faz circular um triângulo
a musa
se faz música no silêncio
coreografia em um só elemento
dança dos cisnes
dança do ventre
dança dos bêbados
nas sarjetas
ou nas nuvens
a musa...
a musa...a musa...
aquela que extraí todos os segredos
e arranca os olhos
da face sem disfarce
sem medo

Carlos Roberto Gutierrez