sábado, 18 de outubro de 2014

Bruna Moraes - Because Ousa (Audio)

PAGU

Participe do lançamento de "Pagu: Vida-Obra", de Augusto de Campos, em São Paulo no dia 16 de outubro.
"Pagu" volta às livrarias em uma edição revista e ampliada, que inclui novos textos, dezenas de ilustrações e fotografias. O poeta e estudioso da história do modernismo Augusto de Campos faz um resgate completo e ambicioso da produção artística, literária e jornalística de Pagu, uma das principais personagens do modernismo no Brasil.
O evento acontece na Loja da Companhia das Letras por Livraria Cultura, às 18h30. Saiba mais sobre o livro: http://bit.ly/1tixhrB



Emotiva Cuba

Como fazer Torta de Maçã - Marola com Carambola #1

Gotthard - C'est La Vie

Máquina de Escrever

apertar as teclas
ouvir o som de cada letra
o acorde de cada palavra
trocar a fita
sujar as mãos
fazer da folha
um espelho instantâneo
da sua alma
apertar as teclas com vigor
ou suavemente
com ira com amor
supor cada tecla
a extensao de um dedo
um carinho prolongado
 
Carlos Roberto Gutierrez 


 
 
 

GRAVURA


GRAVURA

Todo o processo
todas as impressões
no regresso pela memória
o mosaico do passado
resvala no presente
e lança novas pedras
ao futuro
uma gravura
em sua estrutura complexa
com chuvas e estiagens anexas
com versos concretos
nos interstícios das pedras
no recôndito dos pregadores
no suporte da parede
que se faz janela
Gravura
essa tatuagem íntima
que revela as entranhas
e não releva os relevos
que formam o horizonte
os desertos e montanhas
que une o dourado do dia
com o negro da noite mais sincera
que sonha o azul
mas não despreza a sépia terra
Gravura
que imprime os traços
que talha e retalha o artefato
o estilete que não fere
e adere poesia
nas mais rústicas texturas
Gravura
que perfura terna
e apura a forma de viver

Carlos Roberto Gutierrez

Silvia Ruiz
 
 

Cataventos

CATAVENTOS

Cataventos
entre concretos e floras
faz girar o tempo
futuro o tempo agora
e outrora
cataventos
em cada galho
sincronizados
onde me concentro
onde me espalho
cataventos
fiados em árvores
girando ao sabor dos ventos
em contraste
com a solidez e a pompa dos edifícios
a natureza interage
reage em folhas
quase silenciosas
contra o grito atrito aflito
da dura metrópole
Cataventos
catabrisas
escora temporais
cataventos
catamais
do que um simples revoar

Carlos Roberto Gutierrez

foto Izabel Demarchi

Jogo de Viver

claro
ninguém irá resolver os meus problemas
eu nao os resolvo
e cada vez mais fico emaranhado
nesse jogo de viver
eu sei a gente se apega a tantas coisas
faz tantas artimanhas
ouve uma música
lembra um tempo
presta atenção em um determinado instrumento
tenta ler um livro
ser um parágrafo ao menos
ve u filme
tenta imaginar outras cenas
ah mas é claro e evidente
que nada pode mudar a gente
tolice achar que a política
a ordem vigente
vai conspirar ao nosso favor
besteira achar que uma imagem
poderá suprira nossa ausência de afetos
a vida é assim
uma solidão sem fim
às vezes assisto um seriado antigo
para extravasar tudo que eu sinto
para livrar-me dos pensamentos
auto punitivos
filmes de gangues
de gangsters
ternos de riscas de giz
a vida sempre por um triz
por uma rajada de balas
o barril repleto de orifícios
despejando lágrimas alcoolizadas
desperdícios
indícios pistas pestanas
ah uma hora a noite passa...

Carlos Roberto Gutierrez

Rabiscos, cigarro e vinho barato.

Eu gostava de séries, filmes românticos.
Mas sabia a merda que era assisti-los.
Eles induziam ou me faziam pensar em coisas que nunca aconteceriam
Finais felizes
Beijos lentos na chuva
Aquela cena clichê e linda de quando um casal cai um por cima do outro
Lábios com centímetros de distância
E um fundo musical bem lento pra foder mais a cena.
Eu gostava.
Mas não gostava.
Eu era o termo "paradoxal" em pessoa.
Era uma cena falsa de felicidade. Pessoas encenando algo que eu queria que fosse verdade.
Acho que a tpm ta me afetando.
Estou ficando carente a ponto de esperar que talvez uma cena de um filme ou uma capítulo de um livro melódico e romântico
Pudesse se tornar real na minha vida.
"Droga de tpm", pensava.

_ Amanda Bento
 
 

FODA-SE

foto de Rabiscos, cigarro e vinho barato.
·

FODA-SE
A ORDEM
O CONVENCIONAL
A ÉTICA
A POÉTICA
A ESTÉTICA
O POLITICAMENTE CORRETO
A MINHA NATUREZA É ANARQUISTA
MEU SER SEMPRE IRREVERENTE
E QUEM ME BATER DE FRENTE
OU APONTAR O DEDO
NÃO SINTO MEDO
E JOGO UMA BAFORADA
AROMÁTICA E REPLETA DE VENENOS
NA CARA NA FUÇA
DE QUEM PALPITA A MINHA VIDA
E MEXE EM MINHAS FERIDAS
FODA-SE
A OPINIÃO ALHEIA
OS BONS COSTUMES
AS ETIQUETAS
EU NÃO VIVO DE RÓTULOS
EU VIVO O QUE DÁ NA MINHA TELHA
FOLHAS SECAS POÇAS DE ÁGUAS
PASSOS DE GATOS PENAS DE PÁSSAROS
SONHOS MORCEGOS
"FODA-SE"
APESAR DOS CONTRAS
EU VIVO ASSIM MESMO

Carlos Roberto Gutierrez

Rabiscos, cigarro e vinho barato.

Colocava o cigarro no lado direito dos lábios e entre dentes dizia "foda-se".

Amanda Bento
 
 

SENSAÇÕES

GRAVURA de Silvia Ruiz.
·

posso sentir a chuva
e conservar-me seco
dentro de alguma janela
em discreta contemplação
posso ouvir cada gota
no silencio de cada compartimento
do edifício com tantos olhos abertos
e ouvidos latentes e atentos
posso com a chuva
entre o impermeável e o solúvel
esticar dobrar
desdobrar
a paisagem
posso me sentir seguro
dentro de casa
ouvindo os sons da chuva
ou me sentir
livre e molhado na rua
pulando poças d'águas
encharcar os meus calçados
refrescar os meus pensamentos
lavar a minha alma

Carlos Roberto Gutierrez