a gente só se acha na bagunça´´´~´´´´
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
cadê o All Star do pé esquerdo
a palmilha do pé direito
o cadarço ficou no embaraço
do rotor da lavadora
e agora onde está o meu pente
ontem mesmo ele estava rente
ao bolso traseiro do meu jeans
cadê a minha caneta
e a pequena caderneta
sem elas como escreverei
versos pelas ruas
debaixo das árvores
roubando o seu olhar
numa adorada fotografia
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
onde está o molho de chaves
e agora como vou abrir
a porta do escritório
o portão de casa
o cofre cheio de contas
o baú que eu tento esquecer
como eu vou abrir
tudo o que me prende
tudo o que cativa
e tudo o que já se arrepende
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
cadê o All Star do pé esquerdo
a palmilha do pé direito
o cadarço ficou no embaraço
do rotor da lavadora
e agora onde está o meu pente
ontem mesmo ele estava rente
ao bolso traseiro do meu jeans
cadê a minha caneta
e a pequena caderneta
sem elas como escreverei
versos pelas ruas
debaixo das árvores
roubando o seu olhar
numa adorada fotografia
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
onde está o molho de chaves
e agora como vou abrir
a porta do escritório
o portão de casa
o cofre cheio de contas
o baú que eu tento esquecer
como eu vou abrir
tudo o que me prende
tudo o que cativa
e tudo o que já se arrepende
fuça fuça
tira a carapuça
a gente só se acha na bagunça
C.R.G










![Foto: "Acho que foi minha inaptidão para o diálogo que gerou o poeta. Sujeito complicado, se vou falar, uma coisa me bloqueia, me inibe, e eu corto a conversa no meio, como quem é pego defecando e o faz pela metade. Do que eu poderia dizer, resta sempre um déficit de oitenta por cento. E os vinte por cento que consigo falar não corresponde, senão ao que eu não gostaria de ter dito, – o que me deixa um saldo mortal de angústia. Mesmo desde guri, no colégio, descobri essa barreira em mim, que não posso vencer. Sou um bom escutador e um vedor melhor. Mas só trancado e sozinho é que consigo me expressar. Assim mesmo sem linearidade, por trancos, por sugestões, ambíguo – como requer a poesia."
"A incapacidade de agir também me mutila. Sou pela metade sempre, ou menos da metade. A outra metade tenho que desforrar nas palavras. Ficar montando, em versos, pedacinhos de mim, ressentidos, caídos por aí, para que tudo afinal não se disperse. Um esforço para ficar inteiro é que é essa atividade poética. Minha poesia é hoje e foi sempre uma catação de eus perdidos e ofendidos."
"Enquanto o mundo parir uns tipos hipobúlicos feito, por exemplo, Fernando Pessoa, resguardados pela timidez e incapazes de uma ação – as palavras não morrerão. Essas criaturas não têm outra forma de ação que em cima das palavras. Obsessiva e sadicamente as trabalha, dobrando-as até seus pés, arrastando-as no caco de vidro, até que elas sejam eles mesmos. Até que elas deem testemunho da presença deles no mundo. Quase sempre criaturas que nascem repositórios de chão e de estrelas, só sabem fabricar poesias com palavras. E ainda outras que moram ruínas viçosas por dentro, se agarram nas palavras para sobreviver."
- Manoel de Barros.
[FOTOGRAMA: 'City Lights', Charles Chaplin, 1931]](https://m.ak.fbcdn.net/sphotos-a.ak/hphotos-ak-prn2/p480x480/1380574_548669915202124_284233640_n.jpg)













